sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

EXERCÍCIO

EXERCÍCIO (Nuno Júdice)

Pego num pedaço de silêncio. 

Parto-o ao meio,

e vejo saírem de dentro dele as palavras 
que ficaram por dizer. 

Umas, meto-as num frasco

com o álcool da memória, 
para que se transformem num licor de remorso; 

outras, guardo-as na cabeça para as dizer, um dia,

a quem me perguntou o que significavam.

Mas o silêncio de onde as palavras saíram
volta a espalhar-se sobre elas. 

Bebo o licor do remorso; 
e tiro da cabeça as outras palavras que lá ficaram, 
até o ruído desaparecer, 
e só o silêncio ficar, inteiro, 

sem nada por dentro.