Desejos Vãos
(Florbela Espanca)
Eu queria ser o mar de altivo porte
Que ri e canta, a vastidão imensa!
Eu queria ser a pedra que não pensa
A pedra do caminho, rude e forte!
Eu queria ser o sol, a luz intensa,
O bem do que é humilde e não tem sorte!
Eu queria ser a árvore tosca e tensa
que ri do mundo vão e até da morte!
Mas o mar também chora de tristeza...
as árvores também, como quem reza,
Abrem, aos céus, os braços, como um crente!
E o sol altivo e forte, ao fim do dia,
Tem lágrimas de sangue na agonia!
E as pedras... Essas... Pisa-as toda a gente!...
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